BALADA LIBERAL - ONDE TUDO É PERMITIDO E NADA É OBRIGATÓRIO

Um ex-líder religioso mórmon entusiasta do então revolucionário conceito dos hipermercados - Paulo Machado; a filha jovem, bonita e bem-criada de um professor da USP- Luciana Godoi; e seu tio torto, proprietário de linhas telefônicas vitimado pela privatização - Gabriel Gonzalez Fuentez montaram um negócio igualmente improvável: 
uma bem-sucedida casa de swing para quem não faz exatamente swing, localizada na Rua Augusta, em São Paulo, e chamada Nefertitti. Com o “t” dobrado porque a numeróloga do tio torto mandou e o religioso mórmon preferiu não objetar.
A Nefertitti é como se fosse o famoso Love Story paulistano de uma década atrás, quando playboys e prostitutas – já despidas de suas pessoas jurídicas – celebravam a libido, a putaria e o uísque paraguaio na “casa de todas as casas”. A diferença de que na Nefertitti supostamente não há prostitutas – a não ser aquelas apenas vocacionadas para a mesozoica profissão. 


"O que se desbunda dentro da Nefertitti é uma enormidade. Despeito, desbunda, despênis e desvagina."

A Nefertitti tem 10 anos. Passou por três endereços - Vila Olímpia, Moema, Jardins - e atualmente no Brooklin (Av. Padre Antonio José dos Santos, 1187), a Balada Liberal é um divisor de águas na noite paulistana, conquistando o público alternativo e muitos seguidores por onde passou.
A moderna pista de dança da Nefertitti nada deve às melhores da cidade. Pelo contrário: os dois grandes bares que ladeiam a pista têm balcões suficientemente largos para que neles se pratique um pole dance versão “nóis lá em casa”, e que talvez devesse ser executado de capacete. As clientes podem ali mostrar suas poupanças e aplicações de silicone. O sujeito no balcão está autorizado a passar a mão em tais ativos (e até nos passivos), desde que respeitosamente, sem assaltar o cofrinho.
Por volta de 1h da manhã, um competente e divertidíssimo show erótico terminará em strip-tease. Para o freguês que já alcançou o terceiro drinque, também. Porque, se ele estiver acompanhado, penetrará então no labirinto onde o sexo é liberado, a partir de uma porta lateral onde todo mundo entra assim que o show se encerra. É providencial a camisinha na carteira e a amnésia alcoólica no dia seguinte. A iluminação a meia-bomba emagrece os gordos e enrijece as flácidas – um milagre

Nefertitti é algo que saiu da cabeça – não se sabe ao certo se da de cima ou da debaixo – do carioca Paulo Machado, de 51 anos, o religioso mórmon. Nunca lhe ocorrera abrir uma casa de swing. O que lhe provocava a ereção empreendedora era “aquela coisa do hipermercado, em que cada metro quadrado de loja precisa ser vendável”.
Há dez anos, o Paulo assistiu em Paris ao show erótico do cabaré Crazy Horse. Estava com a mulher, Luciana Godoi, a filha bonita do professor da USP que hoje é sua sócia e também sua ex. Degustava um vinho na Champs Élysées quando veio aquele clique: “Não existe no Brasil nada como esse Crazy Horse”.
Perguntou-se: “E se eu trouxer para um único espaço várias atrações que permitam à pessoa fazer tudo o que deseja ali dentro?” A prioridade era o “show sensual” – mas também ia ter jantar, happy hour e o c… a quatro. Sim, o c… a quatro, porque depois do show, calculou o Paulo, “o cara quer pegar um motelzinho”. Prevendo uma frequência maior de pessoas casadas, conjecturou: “Há quanto tempo esse sujeito não faz uma brincadeira divertida? O casamento acaba com isso, é só papai-e-mamãe, no máximo um lingerie novo”. Pensou então num lounge onde as pessoas “pudessem fazer uma preliminar, resgatar essa questão do beijo, cê tá me entendendo?”. Sei, sei…
"Prevendo uma frequência maior de pessoas casadas, conjecturou:  Há quanto tempo esse sujeito não faz uma brincadeira divertida? O casamento acaba com isso, é só papai-e-mamãe, no máximo uma lingerie nova"

Paulo, Luciana e Gabriel saíram à caça do imóvel ideal para montar a "Balada Liberal".  Alugaram um imóvel em Moema, que foi inteiramente reformado pelos parentes da empregada da Luciana. Foram eles que construíram o labirinto, incluindo pequenos orifícios que aparecem em algumas paredes, “para que as pessoas enfiem as mãos” – bondade do Paulo, porque pela altura e circunferência é outra coisa o que se põe ali.
Embora a Nefertitti dê lucro e seu investimento já tenha retornado há muito tempo, Gabriel está triste. A falta de vocação para o trabalho na noite, “repugnante”, tem tirado o seu sono.
"As pessoas que se aventuram no labirinto da Nefertitti: “Uns desajustados…Ou o que posso dizer mais sobre quem traz a namorada para transar na frente dos outros, e fica com a bunda à mostra para todo o resto? É um negócio que choca, né?…Você ver essas surubas, essas orgias"
“O dinheiro que eu ganho aqui parece amaldiçoado. Na noite, você conhece pessoas boas no varejo, mas a maldade opera no atacado."

 

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